24.10.06

Quanto vale a vida?

Será que é possível estipular um valor pela vida de cada um? Em muitos casos sim. Há uma série de exemplos onde, dependendo da posição que você ocupa, há uma cotação para seu cargo no mercado dos pistoleiros. Em outros casos é ainda pior. A vida é equivalente ou menor do que dar passagem para o carro da frente no trânsito ou simplesmente diminuir o volume do som da festa.

A notícia que bombou na semana passada do rapaz morto por um segurança de um shopping porque, aparentemente, derrubou alguns cones de sinalização é um ótimo exemplo de quanto vale estar vivo (ou morto!). Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas dá para perceber que é mais um daqueles casos onde a banalização da violência e o completo desrespeito pelo próximo é maior do que o bom senso – se é que ele existe.

No dia em que a morte do rapaz de Campinas foi noticiada, os jornais também traziam outra notícia sobre um homem assassinado porque não pagou a conta em uma boate. O cara, além de espancado, foi queimado. Tudo bem que ele estava errado, mas a “retaliação” foi um “pouco” forte.

Por uma série de valores cristãos ou de qualquer outra religião, a vida é sempre definida como o maior bem que cada um pode ter. Estabelecer um valor para ela era algo inimaginável há algum tempo. Agora parece que apenas a vida de entes próximos e queridos tem valor. O vizinho ou mesmo o desconhecido que você encontra na rua não valem mais nada.

Infelizmente o egoísmo e a individualidade são os grandes responsáveis por isso. Eu sou assim. Você é assim. O vizinho é assim. E o desconhecido da rua também. Se for culpa da modernidade e da maneira como a humanidade está organizada em sociedade eu não sei. Para mim a própria natureza do homem tem influência nessa questão – assim como em muitas outras, mesmo que grande parte das pessoas ignore. Acredito que a formação cultural e os valores têm grande culpa nisso, mas atribuir tudo de ruim a eles também não é certo.

Ninguém sabe o verdadeiro valor da vida. Caso exista vida passada, reencarnação e tudo o mais, ninguém aqui “neste plano” lembra de como é ou foi a “vida passada”. Não acredito, nem desacredito nisso tudo. Por enquanto ainda não me convenceram que existe, nem de que não existe.
Quando a ciência ou alguma religião explicar o que de fato acontece “depois da morte”, talvez o valor da vida apareça.

Se realmente for verdade que o corpo perde 21 gramas quando morre (dizem que é o peso da alma), uma boa idéia seria estabelecer o preço da vida por quilo. Aí a história seria bem diferente. . .

19.10.06

Concessões ou consentimentos?

Nunca tinha dado muita atenção para questões profissionais profundas. Sempre tive sorte de trabalhar e quando ficava desempregado, logo conseguia algo. Percebo muitas pessoas nessa situação. Alguns com mais sorte, outros menos. Tudo culpa do grande, ótimo, super, hiper, mega adorado MERCADO DE TRABALHO.

Você (tudo bem, sei que o blog só tem dois leitores, mas . . .) é feliz em seu emprego? E o que você acha dessa então: o que é ser feliz no emprego? É trabalhar no que gosta ou trabalhar fora da sua “área” e ter um salário que sempre desejou?

O mais comum atualmente, de acordo com observações minhas, é que muitas pessoas não se encaixam em nenhuma das duas questões. A grande maioria tem dificuldade de exercer a profissão que se preparou durante alguns anos. Outros estão fora da área de atuação, mas não ganham aquilo que gostariam. É simplesmente falta de opção.

As escolhas profissionais estão ligadas diretamente a uma outra questão: concessões! Aliás, não só profissionalmente, as concessões estão sempre nos acompanhando. Aposto que muita gente quando inicia faculdade pensa de uma forma. Muitos se tornam “revolucionários” ou conhecem alguns destes que modificam vidas alheias. Nesta época, não sei se pela juventude, pela novidade ou por outro motivo qualquer, fazer qualquer tipo de concessão é equivalente a morrer.

Depois de algum tempo muita coisa muda e as concessões são cada vez mais comuns. Mudar de área, de ideologia, de partido político, de estilo e de outras coisas é uma espécie de “evolução natural”. Agora, o que isso tem a ver com desemprego ou emprego?

Fiquei pensando se aqueles que fizeram concessões para estar onde estão, se arrependem ou não. Algumas concessões podem ter feito milagres e apresentado um mundo completamente novo para quem resolver despir-se de pré-conceitos e preconceitos. Acredito que outros devem morrer um pouco a cada dia por conta de tamanhas mudanças.

Não dá pra chegar a uma única conclusão sobre isso. Com concessão ou sem, a verdade é que o chamado mercado de trabalho não tem mais espaço para absorver tanta gente (na verdade não só o mercado de trabalho, vide as estradas, shoppings, praias, hospitais públicos e mais uma penca de coisas).

Mesmo que não esteja muito claro, o texto tenta traduzir ou expressar o que penso sobre tudo isso. E como dá pra perceber, as dúvidas estão cada vez mais presentes.

18.10.06

É expressamente permitido fumar

Eu não sei se os dois leitores deste blog fumam cigarro. Se o fazem, também não sei se são do tipo que não respeitam aqueles que não fazem uso do tabaco. A verdade é que muita gente da turma do cigarro não está nem aí para o incômodo que o cheiro e a fumaça causam àqueles que não gostam.

O pior dos casos é quando acontece isso em ambientes fechados. A lei de que é proibido fumar em locais como esse é completamente ignorada, caso raro no Brasil, com o perdão da ironia. É ainda pior quando existe uma “área” para não fumantes – se é que isso é possível porque num ambiente fechado a fumaça vai saber que não deve ultrapassar aquela linha imaginária.

No domingo estava num restaurante. Quando chegamos achei por bem escolher um local perto da porta de saída por causa do ar. Antes mesmo de fazer o pedido, uma pessoa acendeu um cigarro na mesa de trás à minha. Perguntei ao garçom se poderia mudar de lugar e ele me levou ao local sinalizado para não fumantes (não sabia que esse restaurante tinha essa área de “isolamento”).

Logo que sento e começo a fazer o pedido, duas pessoas da mesa ao lado acendem cigarros. Pergunto ao garçom se ali é para não fumantes. Ele diz que sim e vai até a pessoa e diz que não pode fumar ali. O mais intrigante é que os fumantes responderam “ah, mas não tem ninguém aqui por perto (sendo que as mesas estavam todas ocupadas)”. Daí o garçom diz “tem criança ali naquela mesa (a minha)”. Os dois fumantes com idade suficiente para ser avós da referida criança fazem cara feia, reclamam e saem para fumar.

Isso se tornou o assunto do almoço e durante todo o tempo ficamos conversando sobre isso. Fiquei pensando em várias coisas. Uma delas é justamente a lei proibir e os estabelecimentos insistirem em reservar áreas para fumantes. Neste local, especificamente, a distância entre uma área e outra é de no máximo três metros, sem nenhum tipo de divisão.

Outra coisa: será que o vício é tão forte para o fumante não agüentar esperar cinco minutos para acender um cigarro quando for embora? Não sei. Não fumo e acho que não tenho nenhum vício como esse ou pelo menos não tenho nenhuma compulsão por nada tão imediato.

Nunca gostei de cigarro, apesar de já ter tentando fumar quando adolescente. Mas parece que está cada vez pior conviver, mesmo que passivamente, com ele.

Notícias quentinhas, quem vai querer?

Quanta ironia . . . depois de uma postagem sobre o “não assunto” fico dias sem colocar nada aqui . . .

Mas vamos lá, não que eu tenho assuntos novos e ótimos para escrever sobre, mas justamente isso é que me enche de dúvida. O que é um assunto legal pra escrever sobre? E o que garante que o legal pra mim também é para os dois leitores deste blog?

No jornalismo isso é bastante comum (com o perdão do bairrismo profissional). Os editores e chefes de reportagem responsáveis por decidir o que é e o que não é notícia nem sempre acertam. Na verdade, eles simplesmente mantêm uma corrente desde quando o jornal, ou o canal de televisão ou emissora de rádio existe. Os assuntos são basicamente os mesmos, principalmente no noticiário econômico e político – com exceção ou não dos escândalos.

Uma matéria jornalística pode surgir do nada, de onde menos se espera. Mas, por uma série de motivos, isso não interessa mais aos veículos de comunicação. Há um grande repórter no Brasil, Ricardo Kotscho, que escreveu muitas matérias sobre pessoas comuns. Infelizmente isto está cada vez mais difícil de se ver.

Mesmo com tantas definições para “notícia” eu, sinceramente, não sei exatamente o que é e o que não é notícia. Há aquela máxima de que se um cachorro morde um homem não dá matéria, mas se o homem morder o cachorro sim.
Assim como o cronista/articulista/opinador (e agora o “bloguista” também) sofrem com a falta de assunto, a imprensa em geral parece padecer do mesmo mal.

11.10.06

Sobre o não assunto

Confesso que depois de algum tempo passei a achar as crônicas e textos sobre a falta de assunto bem chatas. Antes até gostava de uma ou outra, mas agora acho um puta clichê batido escrever sobre isso. Não que eu não esteja fazendo algo parecido aqui, mas esse pensamento levou a outro.

Como deve ser difícil ser cronista diário! Imagina o cara ter um deadline todos os dias para escrever sobre qualquer coisa. À primeira vista é o que todo jornalista ou escritor quer. Não ter limitações para o pensamento e poder divagar, criticar, opinar, sugerir, seja lá o que for, sobre o assunto que desejar. Mas, pensando bem, não é tão fácil.

Justamente pelo enorme leque de opções chega um momento que fica difícil escolher sobre o que falar. Para os repórteres que têm deadline também, a situação é um pouco melhor porque há pauta e mesmo que não esteja num dia ótimo, as informações estão ali e basta organizá-las na linguagem jornalística. Não que eu esteja menosprezando a minha própria profissão, mas a grosso modo funciona mais ou menos assim.

Já o cronista/articulista/”opinador” nem sempre têm informações bem delimitadas para construir o texto. Eu, simples rascunho de um escriba cibernético neste espaço, fiquei pensando sobre o que poderia postar hoje. E, mesmo sem ter nenhuma responsabilidade em escrever religiosamente no blog, coloquei-me uma pressão para arranjar um assunto que fosse suficiente para se tornar uma postagem.

Não foram poucos os que vieram à minha cabeça, mas (como você pode perceber) nenhum ganhou corpo. Acredito que não exista uma explicação exata para isso (como se tivesse para tantas outras coisas), mas a partir de hoje não vou achar tão mau quando ver um texto sobre a ausência de assunto.

Adendo – depois de terminar de escrever fiquei pensando naquele ensinamento de Armando Nogueira, citando Drummond: escrever é a arte de cortar palavras. A “regra” realmente é muito boa para fazer um texto bacana, mas imagina nesses casos relatos acima - onde “encher lingüiça” é a única coisa que resta - ter de cortar palavras ou frases inteiras. Realmente não deve ser nada fácil . . .

10.10.06

Crime e castigo

Sabe aquelas coisas que você gosta antes mesmo de conhecer? Como aquele livro que não leu, a música nova daquela banda que não escutou ou ainda o filme do diretor mais empolgante do cinema . . . Comigo acontece (u) com o livro Crime e Castigo, de Dostoievski. A obra sempre despertou minha atenção, mas nunca tive a oportunidade de ler. Já havia procurado em sebos e não tinha encontrado. Uma vez achei, mas não tinha dinheiro . . . Hoje, finalmente, as forças convergiram e consegui adquirir uma edição de 1973 pela bagatela de R$ 20 – não há nada melhor do que os sebos!

Estou apenas na página 40, mas já adoro o livro. A leitura, diferente do que pensei, é bem tranqüila, com uma ou outra passagem mais densa. A história realmente prende a atenção desde as primeiras linhas e a narrativa é muito bem construída. A marca de Dostoievski, pelo pouco que sei, é justamente a riqueza na descrição das personagens. A maneira como as angústias, dúvidas e ações são colocadas nos transportam para dentro da história. Mas não de uma maneira simples. O estilo é incrível e faz com que queiramos ler tudo de uma vez.

Já havia assistido ao filme Nina, do Heitor Dhalia, e gostei muito, apesar de não entender completamente, já que ele utiliza o livro como argumento. A personagem de Guta Stresser, mais conhecida como a Bebel da Grande Família, é forte, cruel e tem uma obscuridade muito grande. Assim como a personagem de Myriam Muniz – uma das melhores interpretações que já vi no cinema.

O filme tem uma fotografia escura, deixando o clima bem pesado até o final. Apesar de ter assistido há algum tempo, não tenho certeza se foi em 2004 (ano de lançamento) ou 2005, a cena em que Nina, depois de transar com a personagem de Wagner Moura – que faz um cego – e roubar o dinheiro do rapaz, destrói o apartamento, quebrando os móveis e “detonando” tudo, mantém-se muito viva na minha cabeça. É uma puta cena.

Agora lendo o livro, terei de procurar o filme para assistir novamente. Assim que terminar de ler, posto minhas impressões finais sobre ele. Da maneira como comecei a leitura, tendendo a gostar, vai ser bem difícil mudar de opinião . . . Veremos . . .

9.10.06

Por que não dá certo?

Ainda que pelo conteúdo será bem fácil identificar, aviso que este post não é imparcial . . . Apesar de sua parcialidade, talvez seja uma das postagens com mais dúvidas até aqui.

Alguns dos dois leitores deste blog conhecem a revista Ocas”? É uma publicação mensal vendida em São Paulo e no Rio de Janeiro por pessoas em situação de rua ou extremo risco social. A tiragem ERA mensal e os assuntos abordados são bastante variados – o que, em teoria, atrairia um público bem variado. Infelizmente isso não acontece. Os leitores da revista são poucos, tão poucos, que não chegam a 7 mil - tiragem média - nas duas cidades. Considerando o tamanho dessas capitais parece brincadeira.

O “ERA” ali atrás foi grafado em caixa alta porque por falta de recursos a revista tornou-se bimestral. A organização homônima responsável pela publicação não conta com nenhum patrocínio para bancar os custos de impressão e operacionais. Os poucos anúncios reforçam o orçamento mas não são suficientes para cobrir todas as despesas.

O conteúdo é produzido por voluntários guerreiros que não perdem a esperança de ver a Ocas” (com aspas porque é a revista, sem aspas é a organização) nas ruas. Tudo bem, sei que sou apaixonado pelo projeto e tudo o mais. Mas apesar da causa social embutida, a revista é muito boa. O conteúdo é diferente, bem longe do convencional tratado pela grande imprensa, e o visual é ótimo. A impressão é feita em papel jornal e a diagramação muito bem pensada.

A grande dúvida é: por que a revista não consegue se manter sozinha? Sinceramente, ninguém sabe ao certo. É uma série de motivos que vão se juntando para complicar a vida dos vendedores – que dependem exclusivamente da venda para conseguir algum dinheiro que proporcione a saída das ruas ou dos albergues e moradias provisórias.

Um projeto social, barato (a revista custa R$ 3, sendo que R$ 2 ficam para o vendedor), com (bom) conteúdo e que, literalmente, transforma vidas não consegue se manter vivo com tranqüilidade . . . Mais do que nunca, não tenho respostas . . .

8.10.06

"O espetáculo da vida"

Apesar de ser não ter nada a ver uma com outra, vou comentar duas coisas no mesmo post para não encher de títulos diferentes e tal . . .

Depois da tragédia da Gol na qual morreram 154 (no post anterior a empresa ainda não havia percebido que contou a mesma pessoas duas vezes), vi uma coisa mais sem explicação ainda. Quantas histórias você já ouviu sobre pessoas que caíram na rua e morreram? Essa final de semana mesmo bombou uma notícia de transplante de pulmão que o doador de quatro anos caiu em casa e teve morte cerebral.

Agora outra notícia merece um destaque: uma mulher de 26 anos caiu do 14° andar de um prédio e . . . adivinhem? Não morreu!!! Apareceu ontem no "Fantástico". Seja lá o que for a morte ou como ela "entra" na nossa vida, isso é muito mais bizarro do que eu podia imaginar. Só para constar, 14° andar são 50 metros do chão e ela ainda caiu em cima de uma balança no playground. Mas sem respostas impossível . . .

O outro assunto é mais um registro de como o vício pode ser uma coisa trágica ou cômica, depende do ponto de vista.

Estava no estacionamento de um hipermercado. O estacionamento fica no térreo e primeiro andar, um ambiente meio claustrofóbico porque o pé direito não é muito alto. Ao voltar pro carro, percebo que há dois funcionários conversando com alguém que estava no automóvel do lado do meu. O senhor que estava dentro disse que estava passando mal e perguntou onde era a saída. O rapaz apontou a direção e o "tiozinho" de uns 70 anos saiu andando. Uma senhora que estava com ele no carro começou a dar risada e, óbvio, não entendi nada. Apesar disso, o primeiro pensamento foi de que ele tinha claustrofobia e para a pessoa que estava isso era engraçado.

Quando passei pela portaria, o senhor caminhava na rua como se nada tivesse acontecido. Detalhe: estava acendendo um cigarro.

6.10.06

Possivelmente as frases do ano

"Nunca vamos ser aceitos. Pode colocar Jesus Cristo cantando com a gente. A resistência não é com aquilo que fazemos, é com a gente mesmo."

"Não gravei com o Chico Buarque esperando tocar na Alpha FM. Gravei com o Chico esperando que o Chico toque na rádio Tupi e na Nativa."

"O disco começa com forró, tem Chico Buarque, Freddie Mercury, tem os nossos bolerões românticos... mais diferente que isso, impossível."

"O filme posicionou a gente para um público que até então não estava acostumado a Zezé Di Camargo & Luciano. Muitas pessoas compraram o CD da trilha do filme, com Caetano, Bethânia. Se fôssemos fazer um disco com o mesmo tipo de música que cantamos há 15 anos, seria como recuar num processo."

"Qualquer crítico de cinema no Brasil, me mostre onde "Paradise Now" é melhor do que "Dois Filhos de Francisco'"

Todas da dupla Zezé di Camargo & Luciano

PS: na postagem original esqueci de mencionar a fonte. As frases estão numa matéria da Folha de S. Paulo de hoje (06/10/2006)

Direita volver!!!

Nem sempre só o voto reflete quem é a pessoa. A justificava na escolha do candidato A, B, X ou Y (adoro essas inserções matemáticas nos textos) é muito mais esclarecedora. Uma simples conversa sobre o mercado de trabalho na área editorial pode revelar muita coisa sobre posicionamento político de alguém.

O rapaz conversando comigo: “eu voto na direita porque faço parte de uma classe que sempre é beneficiada por partidos com esse viés. Historicamente sabemos que a esquerda prefere ajudar os mais pobres, mas não faço parte desta classe, então, vou votar em quem pode melhorar minha vida e das pessoas da minha família”. Não vou transcrever a conversa inteira, mas pelo trecho já é possível ter uma noção do resto.

Só coloquei o exemplo porque lembrei de uma notícia que li há algum tempo sobre uma pesquisa que apontava a maioria da população brasileira como “de esquerda”. Parece piada, mas não é. O método utilizado para descobrir o posicionamento dos entrevistados foram perguntas do tipo “você acha que o governo deveria proporcionar uma educação, saúde, transporte, moradia, etc, de qualidade para toda a população?”. Por mais egoísta ou de direita (será que estou sendo redundante e essas duas coisas são sinônimos?) que a pessoa seja, a grande parte respondeu sim, levando ao empírico resultado de que somos um país majoritariamente de esquerda.

Nem precisa pensar muito sobre isso, basta ver o resultado das últimas eleições. Sei que está bem difícil definir quem é esquerda ou direita, e mesmo as definições históricas dessas correntes mostram-se contraditórias nos tempos atuais. Mas, ver Maluf como o deputado federal mais votado do país, com quase 1 milhão de pessoas conduzindo-o ao Congresso, demonstra o quanto de esquerda é o povo brasileiro.

5.10.06

Simplicidade é a alma do negócio

Dois vendedores ambulantes entram no vagão do trem vendendo a mesma mercadoria. Para quem não sabe, há uma espécie de “lei” entre este tipo de profissional onde é proibido vender o mesmo produto que o colega no mesmo vagão.

Os dois começam a anunciar “caixa de bombom é R$ 5”. Quando um “percebe” a presença do outro, iniciam uma discussão para descobrir quem estava ali primeiro e, por consequência, teria prioridade para vender. Obviamente eles não chegam num consenso.

Daí um deles anuncia “na minha mão só paga R$ 4, quem vai querer?”. O outro fica louco e retruca instantaneamente “comigo é só R$ 3, vamos lá R$ 3”. O primeiro diz que assim é jogo sujo porque o preço é muito pequeno e não paga nem o custo da caixa. O outro finge que não dá ouvidos e continua vendendo. O surpreendente é que muita gente compra, muita mesmo. Um número bem maior do que no início.

A dúvida é: quantas pessoas percebem a jogada? Tudo é muito bem encenado. Confesso que da primeira vez, nos primeiros minutos, eles quase me fizeram acreditar que realmente era verdade. Alguns viajantes eu sei que não percebem porque comentam sobre o fato e dizem que vão aproveitar para comprar.

Verdade seja dita: não importa se as pessoas acreditam, a estratégia é muito boa e funciona perfeitamente naquele ambiente.

Mais um exemplo de criatividade que aparece em momentos de crise. Provavelmente os dois não estavam vendendo muito sozinhos, cada um seu produto, e resolveram se juntar e fazer a venda “casada”.

4.10.06

Desastres

O acidente com o avião da Gol trouxe um pensamento que tenho de vez em quando. Como não entendo nada de questões ligadas à morte, fico cheio de dúvidas diante desses fatos - e de outros também, mas não é o caso deste post.

Sei que algumas religiões explicam ou pelo menos tratam da morte de maneiras diferentes. Não sei de qual credo é a máxima de que as pessoas morrem quando chega a hora. Outra máxima é de que já nascemos com o dia da morte marcado. Pelo fato de não ter muitas informações sobre isso, não acredito, nem desacredito dessas coisas.

Com o acidente fiquei pensando se, de acordo com a máxima, realmente chegou a hora de 155 pessoas ao mesmo tempo e do mesmo jeito. Se o destino de todos ali foi escrito desde o dia do nascimento, imagina o trabalho que Deus (ou alguma coisa ou pessoa "maior") teve para traçar a vida de cada um de maneira que exatamente naquele dia todos estivessem no vôo fatídico.

Sinceramente, esses desastres me fazem refletir sobre essa máxima. Será que a "entidade" que rege tudo isso aqui, por preguiça resolveu botar os 155 no mesmo avião e derrubá-lo ou se foi simplesmente uma infeliz coincidência de quem estava lá e não tinha nada a ver com a história? Ou ainda a possibilidade de essas máximas não passarem de "folclore" religioso e a coisa é muito mais simples do que parece?

3.10.06

Cenas eleitorais

Para inaugurar este blog, algumas cenas das últimas eleições.

- um fiscal do PMDB chamado para assinar a zerésima (documento demostrativo de que a urna eletrônica está sem nenhum voto), não sabia para qual partido estava trabalhando. Teve de olhar na manga da camiseta, onde estava um adesivo. Assinou o nome e na sequência colocou "MDB"

- um eleitor começa a votar normalmente. Depois de confirmar o primeiro voto, diz que errou, dá um piti e avisa que não vai terminar a votação. Informado de que não pode fazer isso, volta à urna e diz para todos ouvirem que está votando "tudo branco"

- outro eleitor, depois de errar o primeiro voto, avisa que "agora vai qualquer um mesmo"

- mãe vai votar com a filha. Ao terminar, a mãe diz que a menina, de no máximo 10 anos, escolheu os candidatos

- várias pessoas queriam continuar votando mesmo depois de ter digitado o número dos 5 candidatos e confirmado

- conversa no corredor da escola: "e aí, em quem você votou para roubar nóis (sic)? Reposta: "no mesmo que está roubando há 4 anos!"

- durante a votação, a eleitora fala alto: "nem quero olhar para a cara desses cornos filhos da puta"

- ao sair da seção, a mulher para o marido: "votei em todos que você falou"

Vou dizer o quê depois dessas?????