2.3.07

Contra-cultura

Muitas vezes fico pensando o tamanho da influência de empresas privadas na imprensa “grande” brasileira. Não sou mais ingênuo de acreditar que existe jornal livre, porém, não dá para medir exatamente até onde vai essa dependência. Infelizmente, nessa semana tive mais uma prova do quão promíscua pode ser essa relação.

Obviamente que todo mundo viu ou ouvir falar sobre a exposição de obras criadas por Leonardo Da Vinci, no Oca, no Parque do Ibirapuera. Na verdade, as pessoas devem estar até cansadas de tanto ver matérias sobre isso. Só que, curiosamente, no dia anterior à abertura ao público, essa exposição ganhou capa dos cadernos culturais dos dois maiores jornais de São Paulo: Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo.

Claro que a notícia é relevante e merece ser divulgada para o maior número de pessoas possível. Mas, neste mesmo dia, a Globo também entrou com um link no SPTV primeira edição direto do Ibirapuera. Levando em consideração a data da abertura e tudo o mais, aquele dia era o ideal para a cobertura, mas é impossível não imaginar que houve um “trabalho” muito forte de marketing da empresa patrocinadora – Bradesco.

Nada contra empresas privadas “patrocinarem” a “arte”. O que me chamou a atenção foi o tamanho da devoção da imprensa em relação ao fato. Devoção porque parece que só tinha isso acontecendo em São Paulo, e para ajudar eles ainda faziam uma cobertura “casada” com outra exposição na Oca: Corpo Humano. Com um “apoio educacional” adivinha de quem? Fundação Bradesco.

Eu sei que esses posts podem parecer um bairrismo da minha parte, já que sou jornalista e teoricamente tenho como “função moral” criticar e querer uma imprensa de qualidade. Mas é impossível não perceber a relação que se estabeleceu entre a mídia e os ditos produtores de cultura do país. Isto porque são duas exposições para públicos abonados – o ingresso custa R$ 30 para cada uma.

Que a situação do jornalismo cultural praticado por grandes veículos de comunicação é triste, todo mundo sabe. Mas quando vejo coisas assim desanimo de querer escrever alguma coisa sobre cultura profissionalmente. Nunca trabalhei nesta área, mas a impressão é que uma certa independência é impossível, porque as ações de marketing dos patrocinadores engolem qualquer crítica “mal-vinda”.

Não que isso não ocorra em outras coberturas, como a política ou econômica, por exemplo. Mas quando acontece isso com a cultura é uma contradição muito grande – o avesso daquilo que a “boa” arte prega.

Um comentário:

Jujuba disse...

Isso porque o jornalismo cultural é o mais digno de todas as outras vertentes dessa nossa humilde profissão.
Se até a cultura é altamente corruptível, que sejamos também. Mas perceba que o dinheiro nunca chega nem perto de nós, hahaha

É por isso que eu bebo...
Beijo!