8.3.07

O dia delas

Nunca fui um grande fã de datas comemorativas. Sempre tento olhar de fora da excitação pela qual a maioria das pessoas passam nos dias em que se comemora alguma coisa. Hoje, Dia Internacional da Mulher, além dessa postura descrita, olho a data de "fora" por motivos óbvios. O fato de eu gostar ou não destas datas pouco importa, já que não mudo a vida de ninguém por conta disso. Agora muitas empresas que "gostam" disso, acabam piorando muito as coisas.

A Folha de S. Paulo lançou um "caderno especial" Mulher com textos e opiniões criticando a chamada ditadura da moda, porque outras questões envolvendo as mulheres (violência doméstica, descriminalização do aborto e dupla jornada de trabalho) são coisas ultrapassadas e, como o jornal dá a entender, não são mais problemas enfrentados por nenhuma brasileira. Até aí tudo bem, ou não né meninas?

Mas o que mais chamou a atenção são os anúncios do caderno. Logo na capa, meia página de propaganda de lavadora de roupas, lava-louças, lavadora "tira-manchas" e um microondas com sexto sentido - referência ótima neste caso. Nas páginas seguintes do suplemento o show de anúncios continua.

Em um deles, de um creme de rejuvenecimento, a frase "Hoje a mulher merece ficar mais tempo na frente do espelho". E para coroar o show de horrores na última página, uma construtora reproduziu a imagem de uma casa construída com alguns objetos que supostamente lembram as mulheres: sapato, jóias, óculos, batom, perfume, bolsa, carteira e por aí vai.

Não entendo nada de propaganda, mas colocar anúncios com tamanho grau de pré-conceitos em um caderno destinado a mulheres não deve funcionar muito bem para essas empresas. Pelo menos, aquelas que forem conscientes e que de fato brigam por espaço numa sociedade cada vez mais machista, não devem se sentir nem um pouco homenageadas dessa maneira.

Assim como não gosto de datas comemorativas, também nunca entro em polêmicas discutindo a igualdade entre homens e mulheres (apesar de achar que a sociedade não as trata da maneira como deveria) ou com os argentinos - aliás essa é uma das coisas que vou morrer sem entender o porque dessa rivalidade besta.

Apesar disso, não imagino (porque não existe imaginar uma situação pela qual você nunca passou ou não passa diariamente) como deve ser mulher e os desafios que elas são obrigadas a enfrentar. Da mesma maneira que não imagino como é ser negro em um país onde esta raça é maioria e ainda assim há um preconceito velado imenso.

Como é impossível me colocar no lugar de qualquer pessoa, seja um negro ou um grande empresário de uma multinacional, respeito todo mundo independentemente das características físicas, cor da pele, credo, gosto e etc. Obviamente que tenho minhas preferências pessoas e naturalmente vou me entender melhor com pessoais que tenham determinadas preferências, mas isso não quer dizer que os demais sejam menores.

Sei que falei demais até aqui e nem tudo parece fazer sentido, mas de uma maneira ou outra é uma forma de homenagem às mulheres, mesmo não gostando de datas comemorativas.

2 comentários:

Jujuba disse...

Essas datas comemorativas são um tanto estranhas. Ainda mais quando se comemora algo que nada mais é do que a sua própria existência.
Por que comemorar o dia da mulher se ninguém escolheu ser mulher?
Sei lá. Complexo demais para a minha pequena mente.
O certo seria comemorar as mulheres que sabem ser mulheres. Não aquelas que simplesmente vivem, porque nasceram assim.

Enfim. Complexo.
Aliás complexo faz parte da arte de ser mulher, o que me leva a participar do modesto blog...

Fernando Shoiti Schatzmann disse...

Cara, quanto às propagandas, é uma questão complicada. Já trabalhei alguns anos com isso e imagino o que pode ter causado esse contraste entre as matérias e os anúncios. Provelmente foi o departamento comercial que ferrou tudo. Venderam o peixe de forma errada para as agências, que repassaram a idéia distorcida para seus clientes. Não estou defendendo as agências de propaganda, muito pelo contrário, não quero mais voltar a trabalhar com isso, mas é muito comum esse tipo de coisa acontecer, nenhuma das peças envolvidas fala a mesma língua e o resultado acaba sendo o que cada um pode fazer de melhor sem o mesmo objetivo.