3.5.07

O encontro

No início eu não acreditei que seria possível. Eu, justamente uma das pessoas mais confusas em relação à fé e declaradamente não muito simpático aos “ensinamentos” da Igreja Católica, fui escolhido para encontrar com Ele. Não estou me referindo a Deus, apesar de ter escrito em caixa alta, mas sim ao cardeal Joseph Ratzinger, agora chamado de papa Bento XVI.

A coisa aconteceu mais ou menos assim.

Aproveitando a vinda do pontífice ao Brasil e a vontade de ele estabelecer um diálogo com os moradores de um dos países mais católicos do mundo, algumas pessoas foram selecionadas aleatoriamente para encontrar com o presidente do Vaticano pessoalmente. Dentre os felizardos, este que vos escreve.

Quando soube da notícia argumentei que não era católico, muito menos tinha intenção de conhecer o papa. Porém, os organizadores explicaram que, assim como eu, os escolhidos tinham credos diferentes e era justamente este o objetivo: colocar pessoas com visões diferentes para debater a fé atualmente.

Mesmo desconfiado e com ressalvas, acabei aceitando o convite e confirmei minha presença ao evento. Para não intimidar aqueles que não seguem as doutrinas pregadas por Bento XVI, escolheu-se um local neutro para o encontro, ainda que o pontífice fizesse questão de realizá-lo no mosteiro de São Bento, onde está hospedado.

Por mais surreal que possa parecer, vossa santidade topou encontrar-se com o seleto grupo em um bar qualquer de São Paulo para que todos pudessem conversar enquanto bebericávamos alguma coisa – cerveja para os pobres mortais e o sangue de Jesus, vulgo vinho para os padres, para o pontífice.

Mais surreal ainda foi ver o papa fazendo os pedidos ao garçom em claro e bom português. Além do vinho, ele também pediu uma porção de amendoim (!) e outra de queijos. Nós, os outros, entre olhares desconfiados e incrédulos nos sentimos estimulados a provar a cozinha do local e foi um festival de porções, com direito a carne de sol com macaxeira, feijão de corda, mocotó e outras iguarias tupiniquins – bem diferentes da alta gastronomia da qual Bento XVI está acostumado, inclusive os mimos aqui no Brasil.

Mesa cheia, e a conversa começou em tom ameno, com basicamente apresentações de todos, menos Dele, por motivos óbvios. Em seguida, alguém já entrou com os dois pés no peito: jogou na roda o assunto do divórcio e do segundo casamento, ambos condenados pelo papa.

Um longo silêncio antes da resposta e Ele resolveu falar.

Continua . . .

Um comentário:

Anônimo disse...

Fiquei surpresa agora, e ansiosa para saber o restante desse milagroso encontro. Até mais...beijos.