22.6.09

Teerã pintada de verde

Tenho visto com especial interesse tudo o que está acontecendo em Teerã. Desde o dia 12, a população está protestando contra o resultado das eleição, que acreditam terem sido fraudada. Ainda sem muitas informações confiáveis a respeito do que realmente rola por lá, em relação à apuração e como foi conduzido o processo eleitoral, é curioso ler as notícias sobre o resultado ter sido divulgado duas horas depois do término da votação. Lá o esquema ainda é com cédulas e, pelo pouco que conheço do país, não deve ter um sistema de transportes e uma logística eficientes ao ponto de chegar ao vencedor em tão pouco tempo.

Enfim, o curioso é que o candidato oposicionista derrotado, Mousavi - que tem twitter e flickr - acabou se tornando uma espécie de queridinho do ocidente. É claro que, aparentemente, ele não é tão louco quanto o presidente reeleito, Mahmoud Ahmadinejad, mas nem por isso é um defensor da democracia e de uma sociedade iraniana mais aberta. Em relação ao atual, Mousavi pode até ser menos mal, mas está longe daquilo que os países "democráticos" consideram ideal.

De qualquer maneira, as demonstrações do povo são incríveis. Numa nação tão fechada como aquela, é interessante ver a população desafiar o poder de um aiatolá e sair às ruas pedindo mudanças. Desafiar o líder supremo é, sem dúvida, sinal dos tempos por lá.

Difícil para quem está do outro lado entender exatamente o que acontece no Irã. Um documentário chamado Cartas ao presidente mostra exatamente a relação de Ahmadinejad com a população. Entre os mais humildes, ele é bastante querido e arrasta multidões por onde passa. Quando o diretor entrevista pessoas da capital, sobretudo universitários, a situação muda radicalmente. Chovem críticas.

Depois de assistir ao filme, fiquei com a sensação de que não consegueria saber se Ahmadinejad era um bom ou mau presidente para os iranianos. Para o mundo, ele já mostrou que não está nem aí para ninguém, graças a declarações bizarras, como negar a existência do holocausto, por exemplo.

Sem entrar no mérito, mesmo porque não estou lá e não vivo o dia a dia, quando manifestações deste tipo acontecem é preciso prestar a atenção, porque quem está falando é o povo.

Um comentário:

Juliana disse...

Quando terminamos de ver Cartas ao Presidente, confesso que fiquei com uma sensação bizarra, de ver algo que jamais imaginava acontecer. Eu achava que, assim como os universitários do documentário, todos achavam o presidente tresloucado.
Mas o fato é que eu desconhecia por completo a devoção que o povo iraniano tem pelo presidente. O que torna Ahmadinejad ainda mais indecifrável.
Não há, simplesmente, como nós ocidentais (no caso, eu oriental importada) entender algo que vai muito além dos valores culturais e históricos.
A ascensão de Ahmadinejad está ligada ao cotidiano. E só sabe quem vive lá.