22.4.10

Berlim 1

Acho que só me dei conta de que realmente estava indo para a Alemanha quando, do avião, vi os alpes na Áustria cobertos de neve. Ali a ficha parece ter caído de que realmente estava chegando ao velho continente.

Munique, a cidade onde fiz a conexão para Berlim, impressionou pela grande quantidade de áreas verdes, aparentemente plantações, que eram possíveis serem vistas do avião.

No aeroporto a polícia alemã é bastante rígida ou eu realmente tenho cara de suspeito. Ao entrar no saguão da conexão internacional um policial veio até mim e começou um interrogatório digno de filme de ação. Perguntou o que eu fazia no Brasil, o que estava fazendo por lá, se tinha dinheiro suficiente para o período que pretendia ficar, quanto havia pago na passagem e até de onde veio o dinheiro para isso. Dadas as respostas, e ele aparentemente satisfeito, me liberou para a imigração, que acabou sendo bem mais suave do que imaginei. Carimbado o passaporte, era hora de esperar o voo para Berlim, que atrasou mais de uma hora e resultou num chá de cadeira de umas quatro horas no aeroporto de Munique, cujas opções para se distrair não são muito atraentes, com poucas lojinhas e restaurantes.

Passadas as horas de tédio, desembarco em Berlim. Tudo certo com a bagagem e o primeiro espanto: o aeroporto Tegel, um dos dois que existem na cidade, é menor que a rodoviária do Tietê. Da esteira de bagagem, você passa por um corredor e já está na rua. Ninguém faz nenhum tipo de checagem de absolutamente nada.

Escolhido o táxi, rumo ao hotel. Segundo espanto: trânsito caótico. Tudo bem que esse é um mal que não é exclusivo de São Paulo, mas realmente fiquei impressionado com a quantidade de carros e a forma de organização do tráfego, com gente virando na frente de automóveis e semáforos por todos os lados. Comentei o fato com o taxista, contando mais ou menos como era em São Paulo, e ele raivoso começou a reclamar que os políticos alemães só querem saber de árvores e bicicletas, que deixam de investir em estradas e políticas que beneficiem os donos de carros. Tudo bem que consciência ambiental e de transporte público não é lá tão comum em geral, apesar de estar na moda, mas pensei que fosse mais avançada entre a população de países desenvolvidos. Claro que foi só uma pessoa que me disse isso, portanto, não dá para generalizar.


Kreuzberg

Cheguei ao hotel e o local, tanto o bairro quanto o prédio em si, pareciam ser bem legais. A imagem clichê de alguns filmes europeus, com ruas largas e prédios de estilo clássico um grudado no outro, veio à mente, porque Kreuzberg é exatamente assim. Reduto de artistas e outros movimentos culturais enquanto o muro dividia a cidade em duas, o distrito ainda preserva certo ar “alternativo”, com pichações e grafites por todos os lados, antiquários, bares e lojas de roupas que lembrar a rua Augusta, comprovadamente frequentadas pelos “modernos”. A imensa quantidade de bares e cafés reforça ainda mais o aspecto boêmio do local, tão citado em textos que havia pesquisado na internet.

Depois de deixar as malas no hotel, saí para fazer um reconhecimento dos arredores. Sem querer, descobri a rua mais bacana de Kreuzberg: a Bergman. Tomada por restaurantes, bares, cafés e lojas de todas as espécies, ela fica lotada de gente andando ou sentada às mesas nas calçadas, aproveitando o sol e os cerca de doze graus do início da primavera no hemisfério norte. Achei que o bairro, principalmente esta rua, uma mistura da estrutura da Vila Madalena, dos barzinhos, com o povo que costuma frequentar o baixo Augusta, com pessoas bem diferentes em aparente harmonia.


Andarilho

Como Kreuzberg é relativamente bem localizado, dando acesso rápido a várias partes de Berlim, optei desde o início por fazer todo o roteiro que havia planejado andando pela cidade. O transporte publico é ótimo e interliga todos os bairros, mas ainda assim quis andar e ver qual era o clima e o dia a dia nas ruas.

As longas caminhadas foram ótimas para conhecer pequenos detalhes, como um prédio de uns cinco andares totalmente grafitado, onde na parte de baixo funciona um bar punk.

Conforme ia caminhando mais me espantava com o tráfego, com muitos carros por todos os lados. Ainda que incrivelmente bem sinalizadas, para mim as placas e semáforos mais confundiam do que ajudavam, principalmente porque praticamente em todos os cruzamentos há faróis para carros, pedestres e bicicletas. Tem hora que fecha dois e abre um, ou o contrário, e você fica meio perdido para saber se, mesmo estando verde para você e os automóveis ou bicicletas, pode atravessar sem perigo.

Mas em geral todos respeitam os pedestres. Inclusive, no primeiro dia, dei passagem a um ciclista que me agradeceu à gentileza, já que eu tinha prioridade. Isso se repetiu uma segunda vez em outra parte de Berlim. A educação geral de todos é de dar inveja.

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