3.12.07

Roteiro de roliúde

Você sabia que as probabilidades de dar certo eram pequenas. Aliás, essa certeza caiu desde o primeiro momento em que você a viu, marcado por uma luz incrível sob seu rosto, cuja intensidade teve o mesmo efeito de quando você vê alguma coisa pela primeira vez. O sentimento de incredulidade diante da situação toma conta de você, porque aquilo é surreal demais para estar acontecendo. Não era a primeira vez que você a via, no entanto, naquele momento, você nunca tinha visto nada tão lindo.

Daí, as certezas do início foram caindo uma após a outra conforme você ia convivendo com ela. Até as coisas consideradas mais bregas – opinião sua, não dela -, tinham uma roupagem completamente diferente e era ótimo fazê-las, exatamente como manda o manual de relacionamentos da época da sua avó. Clichê? Piegas? Manjado? Quem se importa quando a mulher da sua vida está ali e tudo o que você quer é fazê-la feliz.

Assim como muitas coisas na vida, essa também não tem explicação. Você a ama e sabe que ela sente algo por você – mesmo que não seja na mesma intensidade ou da mesma forma. Apesar de tudo isso, as coisas não saem como manda o manual, o mesmo dos atos/frases/sentimentos clichês. Daí, quando você se dá conta disso, começa uma busca incessante por respostas e auto-avaliações com o objetivo de descobrir o que está errado. A esperança de salvar tudo e levar o relacionamento adiante é o sentimento mais presente.

Depois de tudo isso, você acorda e lembra que não a terá mais do seu lado, por mais que o sentimento seja exatamente o mesmo do dia anterior, em que tudo acabou, sem tirar nem pôr uma vírgula. O mais torturante é que junto desse aperto no coração, você sente certo alívio – se é que pode ser chamado assim – de que para ela essa é a melhor solução.

O fim para você fica com o gosto de decepção e de ter falhado. Mas, para ela, pelo menos é esse o pensamento que te consola, a situação representa o recomeço, já que finalmente ela está livre para encontrar o seu príncipe encantado, como sonha desde criancinha. Recorrendo mais uma vez ao manual, por ignorância nesses assuntos, você descobre que seu jeito e o modo de agir e pensar representam o anti-herói retratado nesses antigos manuais.

Ainda que em muitos roteiros de filmes, as mocinhas se apaixonem pelo vilão, no final, elas acabam ficando com o mocinho, porque descobrem que é realmente tudo o que desejaram, desde quando brincavam de casinha.

Ao vilão, que não tem nada de vítima nessa história toda, resta o vazio com o qual ele já está mais do que acostumado. Só que pensando em tudo o que aconteceu, ele percebe que faria tudo novamente por ela, mas somente por ela.

Um comentário:

Fernando Shoiti Schatzmann disse...

Uma boa verdade eu ouvi numa frase há tempo atrás, "Quando é com a gente deixa de ser clichê", acredito ser a mais pura verdade, pode-se descrever cenas que acontecem todos os dias com as pessoas pelo mundo afora, parecem somente números numa estatística, mas quando é com a gente a coisa muda totalmente de figura. Pior é querer que a outra pessoa sinta o mesmo, sofra o mesmo, nessas horas é difícil lembrar que cada um é cada um, que ninguém reage da mesma forma, que ninguém enxerga as mesmas cores e ouve os mesmos sons.