6.7.09

(sem) Conexão

Vi duas coisas que me impressionaram muito neste final de semana: a exposição do Vik Muniz, no Masp, e o filme de Anton Corbijn Control, sobre a vida de Ian Curtis, vocalista do Joy Division.

A exposição teve um efeito que geralmente grandes obras causam em mim: burrice. O trabalho do cara é genial, por uma lista imensa de aspectos. Primeiro, as ideias já valem por si só, já que Vik opta por retratar um universo extremamente variado, com nuances de coisas abstratas e flashes da rotina da vida de alguém numa cidade qualquer. Além disso, a escolha dos materiais é o principal foco do trabalho. As obras surgem de arame, algodão, creme de chocolate (lembra da capa do CD do Tribalistas?), macarrão, computadores velhos, lixo e por aí vai.

Montado o desenho, o artista faz um registro fotográfico daquilo. A exposição do Masp é toda com fotografias, portanto, a obra da obra que está ali diante dos nossos olhos. Aparentemente é um retrato fiel, no entanto, é impossível não pensar na construção e desconstrução do material, uma vez que ele é montado para o registro fotográfico, que é o que pode ser visto pelo público.

Além disso, na definição do próprio, a interpretação do expectador é outra parte de sua obra. Diante das reações de cada pessoa, as fotos ganham outro significado, às vezes diferente daquilo que está exposto, outras apenas uma tomada de consciência do material usado para dar forma a algum desenho.

Não colocarei foto de nenhuma obra porque é impossível escolher a que mais gostei ou que valha o espaço aqui. Quem tiver interesse é só clicar no nome aí em cima ou googar para matar a curiosidade.

Já o filme sobre Ian Curtis é uma das videobiografias mais bacanas que já assisti. Não sou um profundo conhecedor da história da banda, nem do movimento punk que serve de pano de fundo para o seu surgimento, mas ainda assim é possível identificar uma série de influências do que acontecia na época na vida do jovem.

Pelo menos da forma como foi filmado, Ian mostra-se uma pessoa extremamente sensível, com uma capacidade incrível de escrever letras impactantes sobre sentimentos "comuns".

Sabendo da história de sua vida antes de assistir ao filme, pelo menos que ele cometera suicídio aos 23 anos, fica mais fácil de entender o comportamento que adotava diante da banda, do público, da filha, da esposa . . . da vida.

Da forma como tudo aparece na tela, que aparentemente é bem fiel a forma como realmente aconteceu, percebe-se que ele vai definhando aos poucos, mesmo com o sucesso rápido e o futuro promissor que tinha pela frente. O casamento precoce, a paternidade e as constantes crises de epilepsia moldaram uma personalidade única, inquieta, mas com uma grande capacidade de falar sobre os sentimentos.

O argumento para este texto era a conexão que eu havia feito entre o filme e o trabalho do Vik, mas conforme fui escrevendo perdi a certeza e os elos que o justificavam. Ambas as obras me fizeram ter inveja. Não de uma forma ruim - se é que isso existe -, mas no sentido de como existem artistas com a capacidade de transformar as coisas mais simples - seja um sentimento ou pedaço de algodão - em alguma coisa que amplia o significado daquilo e nos faz sentir emoções tão intensas.

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