11.10.06

Sobre o não assunto

Confesso que depois de algum tempo passei a achar as crônicas e textos sobre a falta de assunto bem chatas. Antes até gostava de uma ou outra, mas agora acho um puta clichê batido escrever sobre isso. Não que eu não esteja fazendo algo parecido aqui, mas esse pensamento levou a outro.

Como deve ser difícil ser cronista diário! Imagina o cara ter um deadline todos os dias para escrever sobre qualquer coisa. À primeira vista é o que todo jornalista ou escritor quer. Não ter limitações para o pensamento e poder divagar, criticar, opinar, sugerir, seja lá o que for, sobre o assunto que desejar. Mas, pensando bem, não é tão fácil.

Justamente pelo enorme leque de opções chega um momento que fica difícil escolher sobre o que falar. Para os repórteres que têm deadline também, a situação é um pouco melhor porque há pauta e mesmo que não esteja num dia ótimo, as informações estão ali e basta organizá-las na linguagem jornalística. Não que eu esteja menosprezando a minha própria profissão, mas a grosso modo funciona mais ou menos assim.

Já o cronista/articulista/”opinador” nem sempre têm informações bem delimitadas para construir o texto. Eu, simples rascunho de um escriba cibernético neste espaço, fiquei pensando sobre o que poderia postar hoje. E, mesmo sem ter nenhuma responsabilidade em escrever religiosamente no blog, coloquei-me uma pressão para arranjar um assunto que fosse suficiente para se tornar uma postagem.

Não foram poucos os que vieram à minha cabeça, mas (como você pode perceber) nenhum ganhou corpo. Acredito que não exista uma explicação exata para isso (como se tivesse para tantas outras coisas), mas a partir de hoje não vou achar tão mau quando ver um texto sobre a ausência de assunto.

Adendo – depois de terminar de escrever fiquei pensando naquele ensinamento de Armando Nogueira, citando Drummond: escrever é a arte de cortar palavras. A “regra” realmente é muito boa para fazer um texto bacana, mas imagina nesses casos relatos acima - onde “encher lingüiça” é a única coisa que resta - ter de cortar palavras ou frases inteiras. Realmente não deve ser nada fácil . . .

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